A rotina de uma criança moçambicana começa antes das 6 da manhã. Elas caminham muitos quilômetros para buscar água e antes das 7 estarem na escola. A maioria não tem o comer. Vão sem se alimentar mesmo. Limpam a casa, cuidam dos irmãos menores. “Divertem-se”, brincando na rua.
É o que nos relata Janaína Ritsuri, brasileira, que há 5 anos trabalha na cidade de Pemba, junto com seu esposo, Aurélio, a fim de transformar a realidade da educação para essas crianças. Atualmente, lideram a gestão da Escola Comunhão Arco Íris, a qual atende mais de 3.500 crianças e adolescentes, do 1o ano até o último ano do Esino Médio, por lá chamado de Ensino Secundário.
Em 2015 a Escola Arco Íris formou sua primeira turma e muitos desses alunos estão cursando a universidade, inclusive em cursos como medicina, graças a bolsas-de-estudo oferecidas pela própria escola a esses ex-alunos.
Nela, as crianças recebem alimentação, uniformes, material didático de qualidade. Tudo totalmente gratuito. As salas são limpas, bem organizadas, com professores qualificados. É recohecida pelo governo como a melhor escola da região norte do país, com premiação, inclusive.
Sala de aula da Escola Comunhão Arco Íris, Pemba. Crédito da foto: arquivo pessoal
Atualmente, são 2.000 crianças em lista de espera, desejando estudar na Escola Comunhão Arco Íris. O motivo é óbvio: essa não é a realidade comum que se encontra nas escolas públicas de Pemba e de Moçambique como um todo.
Escola Primária 5 de Fevereiro, na cidade de Matola. Dos 1.300 alunos, 120 têm aulas embaixo de árvores. Não fosse a implantação de um terceiro turno, seriam 550 estudantes à relva. A escola fica a 2 km da parada dos “chapas”, vans superlotadas que funcionam como o meio de transporte oficial de Moçambique.
(Fonte e crédito das fotos: Revista Educação)
Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 12 milhões de crianças estudam em salas apropriadas. Segundo a Agência de Informação de Moçambique, 700 mil alunos estudam ao ar livre.
Não existem escolas públicas de educação infantil. A escolarização se dá a partir dos 7 anos e contempla o ensino fundamental. Muitos não seguem para o Ensino Médio e raros cursam universidade.
Segundo dados do site Educação, até 1975, a taxa de analfabetismo em Moçambique era de 93%. Dois terços dos professores tinham apenas a quarta série do ensino fundamental completa e eram formados anualmente somente de 50 a 60 professores.
As privações financeiras do país limitam o recrutamento de professores e a expansão da rede de escolas. Atualmente, forma-se cerca de 12 mil professores por ano, sendo que – segundo entrevista do ex Vice-ministro da Educação de Moçambique, Augusto Jone Luis, para a revista Educação, a necessidade do país é de 10 mil.
Durante os últimos anos, o sistema educacional do país passou por uma grande expansão: hoje, mais de 90% das crianças estão matriculadas no ensino primário (equivalente ao ensino fundamental brasileiro), e o índice de analfabetismo caiu para 48%.
A Escola Comunitária de Magude, em Maputo, existe por conta de uma iniciativa da professora Anita Simeão. “Fiz uma campanha de casa em casa, chamando as crianças para estudar”, conta. Ela começou com encontros embaixo de árvores. A estrutura de caniço da escola foi construída pelos moradores, com o auxílio financeiro de uma ONG irlandesa, a GOAL Moçambique.
Após 500 anos de dominação colonial, são inúmeros os desafios que o povo moçambicano enfrenta para a reconstrução da nação. Para Teresa Miguel, pedagoga que integra o núcleo de Educação Pré-Primária do Ministério de Educação, houve um esforço enorme do Ministério para promover as bases de uma educação primária, mas que as circunstâncias não eram em nada favoráveis. “A guerra destrói famílias; é difícil pensar em educação, quando se está a fugir de armas.”
Uma certeza prevalece: a educação é a chave para o desenvolvimento do país e o resgate da identidade e dignidade desse amado povo, marcado pelos longos anos de dominação e guerras.
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